22 de dezembro de 2024 03:11
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A farmacêutica Pfizer e diferentes autoridades de saúde internacionais advertem desde 2021 que a miocardite e a pericardite são possíveis efeitos colaterais das vacinas de mRNA contra a covid-19.

A farmacêutica Pfizer e diferentes autoridades de saúde internacionais advertem desde 2021 que a miocardite e a pericardite são possíveis efeitos colaterais das vacinas de mRNA contra a covid-19. Mas publicações compartilhadas mais de 6 mil vezes nas redes sociais desde 17 de outubro de 2023 afirmam que o laboratório “finalmente admitiu” esse risco em um novo comunicado, após “negá-lo” por dois anos. Na verdade, documentos da Pfizer com o mesmo aviso existem desde 2021 e tais condições nem sempre são “graves” e “permanentes”, como afirmam algumas publicações.

“A Pfizer emitiu comunicado de imprensa na passada sexta-feira onde admite que as suas injecções provocam risco aumentado de miocardite e pericardite, especialmente em rapazes dos 12 aos 17 anos. Só demoraram 2 anos a admitir isto quando há provas que o sabiam desde o início e no entanto insistiram na vacinação de crianças e jovens”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Instagram, no Kwai, no TikTok e no X (antes Twitter).

Alegações similares também circulam em espanhol e francês.

Algumas publicações compartilham uma captura de tela de um comunicado da Pfizer em inglês, que afirma: “As vacinas de mRNA contra a covid-19, autorizadas ou aprovadas, mostram maiores riscos de miocardite (inflamação do músculo cardíaco) e pericardite (inflamação do revestimento externo do coração), especialmente durante a primeira semana após a vacinação”.

O informe continua: “Para Cominarty (vacina da Pfizer adaptada à variante XBB.1.5 do SARS-CoV-2), o risco observado é maior em homens de 12 a 17 anos”.

Efeitos colaterais listados desde 2021

Uma busca no Google por palavras contidas no comunicado de imprensa citado nas postagens virais levou a uma publicação no site da Pfizer de 11 de setembro de 2023.

No documento, o laboratório anunciou a comercialização no mercado norte-americano da sua última vacina contra a covid-19, adaptada à variante XXB.1.5.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebeu o pedido de atualização do registro da vacina Comirnaty monovalente em agosto de 2023, o primeiro do tipo recebido pelo órgão. Em setembro, a Anvisa autorizou a ampliação de seis meses aos prazos de validade das vacinas Comirnaty monovalente e bivalente, “em todas as suas apresentações”, sob a justificativa de agilizar e ampliar a “oferta de vacinas à população brasileira”.

No final do comunicado da Pfizer, na seção “Informações importantes de segurança”, há uma advertência sobre as reações alérgicas e os possíveis efeitos colaterais da vacinação, particularmente a miocardite (inflamação do músculo cardíaco) e a pericardite (inflamação do pericárdio).

Contudo, essa não é a primeira vez que a Pfizer menciona estas reações adversas.

A farmacêutica já o havia feito em janeiro de 2022, quando foram divulgados os resultados de um estudo sobre a coadministração de seu imunizante e uma segunda vacina contra pneumococo; e em novembro de 2021, quando anunciou a autorização do uso emergencial da vacina de reforço contra a covid-19 nos Estados Unidos.

No comunicado compartilhado nas redes sociais, a única mudança é na redação do texto, e não na mensagem.

Em 2021, o trecho sobre a miocardite sinaliza: “Algumas pessoas que receberam a vacina sofreram de miocardite (…) e pericardite (…), com maior incidência em homens com menos de 40 anos”.

A Pfizer França disse à AFP, em 25 de outubro de 2023, que as advertências em seu comunicado mais recente “não refletem nova informação nem dados de casos sobre miocardite ou pericardite”.

Desde a sua autorização inicial, em dezembro de 2020, a vacina da Pfizer-BioNTech contra a covid-19, que já foi administrada em mais de 1,5 bilhão de pessoas ao redor do mundo, foi supervisionada de perto pelas autoridades sanitárias globais.

A Pfizer França também lembrou que a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) recomendou, em 2021, “atualizar o resumo das características do produto (SmPC)” de sua vacina “para incluir essa informação de segurança”.

Desde julho de 2021, a EMA pede aos fabricantes que incluam essas doenças cardíacas na lista de possíveis efeitos adversos das vacinas de mRNA da Pfizer e da Moderna, após uma análise aprofundada de 145 casos de miocardite identificados depois de sua aplicação na União Europeia.

Em uma publicação de 9 de julho de 2021, a Anvisa também alertou para o risco de miocardite e pericardite após a vacinação com imunizantes da Pfizer, seguindo relatos dos Estados Unidos.

A miocardite e a pericardite são causadas com maior frequência por uma infecção viral (como a covid-19) e tendem a ocorrer em homens jovens. Na maioria dos casos, a saúde dos pacientes melhora por si só ou com a ajuda de um tratamento, indica a Autoridade Francesa de Segurança de Medicamentos e de Produtos para Saúde (ANSM).

O médico Mahmoud Zureik, que realizou numerosos estudos sobre o tema e participa da plataforma de farmacoepidemiologia Epi-Phare, disse à AFP em fevereiro de 2023 que, segundo as evidências disponíveis, “todos os estudos demonstram que quando existe risco de miocardite, ela ocorre rapidamente depois da vacinação, ou seja, dentro de uma semana após a aplicação da vacina”.

Acompanhamos durante um mês os pacientes que tiveram miocardite e, até agora, não houve mortes na França”, insistiu, e acrescentou: “Estamos no processo de observar esses pacientes que têm miocardite após a vacinação até seis meses, um ano”.

Homens jovens correm mais risco

A incidência de miocardite em pessoas vacinadas é estimada em 1 a cada 100.000 pessoas e 1 para cada 10.000 homens jovens, e é “mais comum com a vacina Moderna” do que com a da Pfizer,  segundo a Sociedade Francesa de Farmacologia (SFPT). Em seu último comunicado de imprensa, a Pfizer especificou que rapazes de 12 a 18 anos estão sob maior risco.

Fora desse grupo, ao comparar as possibilidades de falecer de miocardite pela vacina ou pela covid-19, vários estudos já demonstraram que há maior risco após a infecção por coronavírus do que após a vacinação.

O AFP Checamos já verificou outras publicações com desinformação sobre a segurança das vacinas anticovid (123).

Fonte: AFP França / AFP México / AFP Brasil

Redator

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