O método Wolbachia, que consiste em colocar bactéria nos ovos do Aedes aegypti, reduziu em aproximadamente 70% os casos de dengue na cidade
Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, tem se destacado no combate à dengue, mantendo baixos níveis da doença mesmo diante do aumento de casos em todo o país.
Isso é resultado de um monitoramento diário realizado ao longo de todo o ano e também da implementação do método Wolbachia, uma estratégia que começou a ser aplicada na cidade em 2015. Atualmente, Niterói se tornou a primeira cidade brasileira a cobrir 100% de seu território com esse método.
O que é o Wolbachia
O Wolbachia é uma bactéria presente em cerca de 60% dos insetos na natureza, porém ausente no Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue. A técnica consiste em inserir essa bactéria nos ovos do mosquito em laboratório, criando mosquitos que carregam o microrganismo.
Ao terem a Wolbachia, esses mosquitos se tornam incapazes de transmitir os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela, tornando-se inofensivos.
Chamados de “Wolbitos”, esses mosquitos passam a transmitir a bactéria para as gerações seguintes, diminuindo assim o número de insetos capazes de transmitir doenças aos seres humanos.
Desconfiança da população
No entanto, quando o método foi inicialmente proposto em Niterói, houve certa desconfiança por parte da população. Afinal, enquanto todos estavam lutando para eliminar os mosquitos, a cidade estava soltando mais deles.
Para superar essa desconfiança, foi realizado um trabalho de conscientização com líderes comunitários, associações de moradores e a Federação das Associações de Moradores de Niterói, que apoiaram a iniciativa e ajudaram a convencer a população sobre a importância da soltura dos mosquitos.
Hoje, Niterói se destaca por ter uma situação menos dramática em relação à dengue se comparada a outras regiões do país.
Redução de casos de dengue em Niterói
De acordo com a Secretaria de Saúde de Niterói, os números mostram uma redução de aproximadamente 70% nos casos de dengue, 60% nos casos de chikungunya e 40% nos casos de zika nas áreas onde o método Wolbachia foi aplicado. Essa redução tem sido constante ao longo dos anos.
Em 2015, quando o projeto foi implantado, foram confirmados 158 casos de dengue na cidade. Esse número caiu para 71 em 2016 e para 87 em 2017. Em 2018, houve um aumento para 224 casos confirmados, mas no ano seguinte o número voltou a diminuir, registrando apenas 61 casos.
A partir de 2020, os números continuaram em queda, com 85 casos em 2021 e apenas 12 em 2022. Em 2023, foram confirmados 55 casos de dengue na cidade, e até o momento há cerca de 30 casos suspeitos.
A dengue no Rio de Janeiro
Apesar do sucesso do Wolbito em Niterói, o município do Rio de Janeiro enfrenta uma situação diferente. A cidade declarou estado de emergência devido ao aumento no número de internações por suspeita de dengue. No Rio, o Wolbito foi liberado apenas em algumas regiões e não em toda a cidade, como aconteceu em Niterói.
O método Wolbachia não é uma solução imediata e deve ser combinado com outras medidas para combater a dengue e outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Os resultados desse método são observados ao longo de aproximadamente dois anos.
Atualmente, além de Niterói, outras cidades brasileiras também estão incluídas no Programa Mundial de Mosquitos (World Mosquito Program – WMP) e adotaram o método Wolbachia. Essas cidades são Campo Grande (MS), Petrolina (PE), Belo Horizonte, Niterói e Rio de Janeiro. Ainda este ano, mais seis cidades irão implementar o método: Natal, Uberlândia (MG), Presidente Prudente (SP), Londrina (PR), Foz do Iguaçu (PR) e Joinville (SC).