Ontem, ministros e outros “juristas” afirmaram que não houve irregularidades nos procedimentos revelados pela Folha no TSE, porque os materiais discutidos seriam “de fontes abertas”.
Esse nem era o ponto. O ponto é que um órgão de investigação que deveria ser independente produziu relatórios sob medida para embasar decisões já tomadas antes da própria investigação, invertendo a própria lógica da justiça criminal.
Se chegou ao ponto de uma ordem ser dada para um assessor ser “criativo”, depois dele ter investigado a Revista Oeste e não ter encontrado qualquer ilícito, contrariando o objetivo manifesto de bloquear a monetização da revista.
Mas agora, mesmo a narrativa de meras fontes abertas cai por terra.
Nova matéria da Folha, na série que expõe comunicações internas de servidores da justiça eleitoral e do Supremo por Whats, mostra que o chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação utilizou acessos aparentemente irregulares ao Sistema de Segurança Pública de São Paulo para repassar informações à equipe de segurança pessoal do ministro.
“Em uma das mensagens, Tagliaferro diz ao PM do gabinete de Moraes que possui e usa senhas de acesso do sistema da Segurança Pública de São Paulo graças ao que chama de “relação de confiança” com um amigo policial”, afirma a matéria da Folha.
O mesmo caminho teria sido utilizado em diversas oportunidades para produzir relatórios sobre ameaças ao ministro, ou mesmo para levantar informações sobre um manifestante:
“No dia 23 de novembro, o PM fez novo pedido a Tagliaferro. Dessa vez, um relatório sobre uma manifestação em frente ao Comando Militar Oeste, em Campo Grande (MS), em que havia um caixão com a figura de Moraes.”
[…]
“O uso da assessoria especial do TSE para questões relacionadas à segurança de Moraes está fora do escopo de atuação da estrutura do órgão.
Trata-se de um órgão administrativo da Justiça Eleitoral, que não tem competência para atuar em investigações ou processos criminais.
A proteção de ministros do STF é de responsabilidade da Secretaria de Segurança do STF, formada por policiais judiciais e, quando necessário, reforçada com agentes de segurança de outras corporações, como a polícia federal.”
Por Leandro RuschelLeandro Ruschel.