Tarcísio desafia STF em discurso pró-Bolsonaro
Governador de São Paulo critica inelegibilidade de Bolsonaro e comparações com Lava Jato geram tensão entre integrantes do Supremo Tribunal Federal.

O pronunciamento do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), durante a manifestação pró-anistia liderada por Jair Bolsonaro no último domingo (16) no Rio de Janeiro, gerou forte repercussão entre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Nos bastidores, integrantes da Corte expressaram surpresa com o tom adotado por Tarcísio, que consideraram mais contundente do que o habitual em suas falas públicas.
O discurso do governador, que questionou a inelegibilidade de Bolsonaro e fez comparações entre os condenados pelos atos de 8 de janeiro e os investigados na Operação Lava Jato, foi interpretado como uma escalada retórica em relação a outras ocasiões em que Tarcísio se pronunciou em eventos do campo bolsonarista.
Críticas à inelegibilidade de Bolsonaro
Um dos pontos que mais chamou a atenção dos ministros foi a crítica indireta ao STF quando Tarcísio questionou os motivos que mantêm Bolsonaro inelegível. “Qual a razão de afastar Jair Bolsonaro das urnas? É medo de perder a eleição, e eles sabem que vão perder?”, disse o governador durante o evento.
A declaração foi vista como um desafio direto à autoridade do Supremo, que em 2023 decidiu pela inelegibilidade do ex-presidente por oito anos, com base na Lei da Ficha Limpa, após condenação no caso das “rachadinhas” no Rio de Janeiro. Para alguns ministros, o tom de Tarcísio reflete uma tentativa de alinhamento político com Bolsonaro, mas também uma estratégia para ampliar sua base de apoio no campo conservador.
Comparações com a Lava Jato
Outro trecho do discurso que gerou desconforto entre os ministros foi a comparação entre o tratamento dado aos condenados pelos atos de 8 de janeiro e a situação dos investigados na Operação Lava Jato. “Num país onde todo dia vemos traficante na rua, onde os caras que assaltaram a Petrobras voltaram à cena política. Está certo isso?”, afirmou Tarcísio, emendando: “Parece haver Justiça nisso?”.
A fala foi interpretada como uma crítica ao STF e ao sistema judiciário como um todo, sugerindo uma suposta parcialidade no tratamento de casos políticos. Para alguns observadores, a estratégia de Tarcísio busca capitalizar o descontentamento de parte da população com o Judiciário, mas também pode gerar atritos com integrantes da Corte.
Reações nos bastidores do STF
Nos corredores do Supremo, o discurso de Tarcísio foi tema de conversas informais entre ministros e assessores. Segundo fontes próximas à Corte, alguns integrantes do STF demonstraram surpresa com o tom adotado pelo governador, que consideraram mais agressivo do que o habitual.
“Ele sempre foi cuidadoso em suas declarações públicas, mas desta vez parece ter adotado um tom mais confrontador”, comentou uma fonte anônima. Outros ministros teriam visto o discurso como uma tentativa de Tarcísio de se consolidar como uma liderança no campo bolsonarista, especialmente em um momento de fragilidade política do ex-presidente.
Impacto político
O discurso de Tarcísio ocorre em um momento delicado para a política brasileira, com o governo Lula buscando consolidar sua base de apoio no Congresso e o campo bolsonarista tentando se reorganizar após as derrotas eleitorais de 2022. Para analistas políticos, o governador de São Paulo pode estar buscando se posicionar como uma alternativa de liderança no espectro conservador, mas sua estratégia também pode gerar atritos com setores do Judiciário e até mesmo dentro de sua própria base de apoio.
“Tarcísio está tentando equilibrar sua imagem de gestor técnico com a necessidade de se consolidar como uma liderança política. O discurso no Rio foi um passo ousado, mas também arriscado”, avalia o cientista político João Paulo Peixoto.
Próximos passos
A repercussão do discurso de Tarcísio deve continuar nos próximos dias, com possíveis reações públicas de integrantes do STF e do governo federal. Enquanto isso, o governador de São Paulo segue sua agenda política, buscando ampliar sua influência no cenário nacional.
Se por um lado suas declarações podem fortalecer sua imagem entre os apoiadores de Bolsonaro, por outro, o tom confrontador pode gerar resistências em setores mais moderados da política brasileira. O desafio de Tarcísio será equilibrar esses dois lados, mantendo sua imagem de gestor eficiente sem perder o apoio de sua base conservadora.
Da Redação.
Jornalista
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