Cid revela: Moraes tem raiva e ódio de Bolsonaro
Ex-ajudante expõe conversas explosivas entre ministro e general
Novas revelações do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, expõem uma dimensão inédita da relação entre o ministro Alexandre de Moraes e o ex-presidente. Em mensagens obtidas pela Revista Veja, Cid afirma que o magistrado do Supremo Tribunal Federal nutre sentimentos pessoais contra Bolsonaro, declarando que “ele tem raiva e ódio” do ex-mandatário.
As conversas, trocadas entre janeiro e março de 2024 através do perfil @gabrielar702 no Instagram, supostamente pertencente à esposa de Cid, foram mantidas com o advogado Luiz Eduardo Kuntz. O militar, que já havia firmado acordo de delação premiada com a Polícia Federal, fez revelações que podem reconfigurar o entendimento sobre as investigações em curso no STF.
Fonte das informações controversa
Segundo Cid, as informações sobre os supostos sentimentos de Moraes teriam chegado até ele através de uma cadeia de comunicação envolvendo o comandante do Exército, general Tomás Paiva. De acordo com o militar, foi o próprio chefe do Exército quem detalhou os diálogos mantidos com o ministro do STF, repassando essas informações tanto para Cid quanto para seu pai, o general Mauro Lourena Cid.
“CMT EB que conversou com ele e passou para o meu pai”, escreveu Cid ao advogado, referindo-se ao comandante do Exército Brasileiro. O militar também revelou que o general Tomás e seu pai “conversam sempre”, sugerindo um canal regular de comunicação entre os militares.
No entanto, interlocutores próximos ao comandante do Exército contestam veementemente essas afirmações. Fontes ligadas ao general Tomás Paiva negam categoricamente que ele tenha repassado à família Cid qualquer informação sobre conversas com o ministro Alexandre de Moraes ou sobre o Supremo Tribunal Federal.
Alegações sobre motivações pessoais
Nas mensagens divulgadas, Cid vai além ao sugerir que as ações de Moraes seriam motivadas por questões pessoais. “Ele acha que o Pr [presidente Jair Bolsonaro] acabou com a vida dele”, afirmou o ex-ajudante de ordens, em referência ao ministro do STF.
Essa declaração ganha contornos ainda mais dramáticos quando Cid prevê as intenções futuras do magistrado: “vai querer acabar com a vida do Pr [ex-presidente Bolsonaro] e do entorno”. A afirmação foi feita no contexto de uma discussão sobre a prisão do coronel Marcelo Câmara, defendido pelo advogado Kuntz e investigado, entre outras acusações, por monitorar o ministro Alexandre de Moraes após as eleições de 2022.
Dinâmica das comunicações
Um aspecto intrigante das revelações diz respeito à frequência e natureza das supostas comunicações. Quando questionado pelo advogado se falava com outras pessoas, Cid respondeu de forma evasiva: “Com ninguém… Eu só falo com o CMT EB [general Tomás] quando ele encontra com o AM [Alexandre de Moraes]…”
Essa declaração sugere uma dinâmica em que as informações fluiriam do ministro para o comandante do Exército, deste para o pai de Cid, e finalmente chegando ao ex-ajudante de ordens. Se confirmada, essa cadeia de comunicação levantaria questões sérias sobre a independência das investigações e a separação entre os poderes.
Ressentimentos com a hierarquia militar
As mensagens também revelam o ressentimento de Cid com a atual liderança do Exército. O militar demonstrou amargura ao comparar o general Tomás Paiva com seu antecessor, o general Arruda: “nunca deixaria eu ser preso”, escreveu sobre o ex-comandante.
Esse ressentimento se estende às suas ambições profissionais. Cid revelou ter pedido ao pai que não falasse com o chefe do Exército sobre sua promoção a coronel, uma de suas ambições mesmo após as investigações, porque não iria se “rebaixar”. Em tom profético, concluiu: “Mas uma coisa é certa… O Gen Tomás, que já não tem apoio na força, vai perder tudo de vez”.
Contexto da delação e suas implicações
O acordo de delação premiada de Mauro Cid foi homologado por Alexandre de Moraes em setembro de 2023, e o ministro tem mantido a validade do acordo mesmo diante de questionamentos. Recentemente, a defesa de Bolsonaro tentou anular a delação, mas o pedido foi negado por Moraes.
As revelações de Cid são utilizadas em múltiplas investigações que envolvem Bolsonaro e seus aliados, incluindo apurações sobre tentativa de golpe de Estado e inserção de dados falsos no sistema de vacinação. O militar está entre os 37 indiciados pela Polícia Federal no inquérito que investiga a suposta tentativa de golpe após as eleições de 2022.
Repercussões e questionamentos
A divulgação dessas conversas coloca em xeque não apenas a credibilidade das informações prestadas por Cid em sua delação, mas também levanta questões sobre a imparcialidade das investigações. Se as alegações do ex-ajudante de ordens forem verdadeiras, isso poderia indicar um nível de comunicação entre poderes que transcende os canais institucionais normais.
Por outro lado, a negativa de fontes próximas ao comando do Exército sobre o repasse de informações sugere que as afirmações de Cid podem ser fruto de interpretações equivocadas ou tentativas de desacreditar as investigações em curso.
O caso revela a complexidade das relações entre os poderes da República em um momento de alta tensão política no país, onde as fronteiras entre questões institucionais e pessoais parecem cada vez mais difusas. As revelações de Mauro Cid, independentemente de sua veracidade, evidenciam a profundidade das divisões que marcaram o período pós-eleitoral e continuam influenciando o cenário político nacional.
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Fonte: Revista Veja, Agência Brasil, CNN Brasil.
Da Redação.
Jornalista
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