Facções no Brasil viram máfia, alerta Secretário

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Crime organizado evolui, controla territórios e infiltra política, desafiando segurança pública

O Secretário Nacional de Segurança Pública, Mario Luiz Sarrubbo, em entrevista ao Estadão, lançou um alerta preocupante: as facções criminosas no Brasil não são mais apenas grupos organizados para cometer crimes específicos, mas estão se transformando em máfias, com características que ameaçam a soberania do país. Com controle de territórios, infiltração no poder público e um fluxo financeiro robusto, essas organizações operam em escala transnacional, exigindo uma resposta urgente e integrada do Estado. A seguir, exploramos os principais aspectos dessa evolução e os desafios para o combate ao crime organizado.

A Evolução para uma “Máfia Brasileira”

Diferentemente das organizações criminosas tradicionais, que se limitavam a atividades como o tráfico de drogas ou roubos, as facções brasileiras, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), assumiram características de máfias, segundo Sarrubbo. Essas organizações agora cometem uma ampla gama de crimes, incluindo lavagem de dinheiro por meio de contratos com o Estado e empresas privadas, além de se infiltrarem em estruturas políticas. “Nós já estamos numa escala acima de uma simples organização criminosa, porque a máfia negocia com o Estado, se infiltra na sociedade civil e na política”, afirmou o Secretário.

Essa transformação é impulsionada pela profissionalização das facções, que operam com hierarquias bem definidas e redes transnacionais. Um estudo da Esfera Brasil e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelou que existem 72 facções ligadas ao narcotráfico no país, sendo duas com atuação transnacional, comparáveis a holdings do crime. O PCC, por exemplo, movimenta bilhões de reais anualmente e mantém conexões com organizações como a máfia italiana ‘Ndrangheta, exportando drogas para Europa, África e Ásia.

Controle de Territórios e Infiltração Política

As facções não apenas dominam territórios físicos, como comunidades e rotas de tráfico, mas também exercem influência em esferas institucionais. Sarrubbo destacou que essas organizações estão se infiltrando no poder público, corrompendo autoridades e até influenciando candidaturas políticas. Essa penetração compromete a governança e dificulta a aplicação da lei, criando um ciclo de impunidade. O Secretário defende a criação de mecanismos para identificar e barrar candidaturas ligadas ao crime, além de reforçar a fiscalização sobre contratos públicos e privados que possam servir à lavagem de dinheiro.

O Papel do Sistema Prisional

O sistema prisional brasileiro tem sido um catalisador para o fortalecimento dessas facções. Segundo Robson Robin da Silva, diretor do departamento de Políticas, Programas e Projetos da Secretaria Nacional de Segurança Pública, a falta de estrutura e políticas de ressocialização nos presídios permite que as facções se organizem dentro das cadeias. “Eles não encontram o Estado lá dentro. Eles são entregues tão somente ao aspecto punitivo”, afirmou. Esse ambiente favorece o recrutamento de novos membros e a consolidação de lideranças criminosas, como Marcos Camacho (Marcola) e Luiz Fernando da Costa (Fernandinho Beira-Mar).

Propostas para o Enfrentamento

Para combater essa ameaça, o Ministério da Justiça e Segurança Pública criou um Grupo Técnico de Trabalho com o objetivo de elaborar uma “lei antimáfia”. Inspirada em legislações estrangeiras, a proposta busca atualizar a Lei das Organizações Criminosas de 2013, com foco no combate à lavagem de dinheiro e na integração de sistemas de inteligência. Sarrubbo enfatiza a necessidade de uma Lei Geral de Proteção de Dados na esfera penal para facilitar o compartilhamento de informações entre estados e a União, superando a fragmentação do sistema federativo de segurança pública.

Além disso, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, que prevê a criação de um Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), é vista como essencial para unificar diretrizes e estratégias em nível nacional. “A ideia é que a União possa estabelecer diretrizes, sem interferir na autonomia dos estados”, explicou Sarrubbo. Outras medidas incluem operações em cidades-piloto e o confisco de bens do crime, visando desmantelar a “coluna vertebral” financeira das facções.

Desafios e Perspectivas

O avanço das facções criminosas expõe a fragilidade das políticas de segurança pública no Brasil. A ausência de integração entre as forças policiais e a falta de um sistema de inteligência robusto dificultam o combate a organizações que operam com sofisticação e alcance global. Especialistas, como o professor Pierpaolo Cruz Bottini, sugerem que o foco deve estar na melhoria das investigações e na gestão de informações, em vez de apenas aumentar penas e prisões.

O alerta de Sarrubbo reforça a urgência de medidas estruturadas e coordenadas. Sem uma resposta eficaz, as facções podem continuar a se fortalecer, comprometendo ainda mais a segurança e a democracia brasileira. A sociedade civil, o poder público e o setor privado precisam atuar em conjunto para enfrentar esse desafio crescente.


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Fonte: Estadão

Da Redação.

Jornalista


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