Maduro e o Narcotráfico: Acusações em Xeque

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Entre suspeitas e geopolítica, entenda as provas (ou a falta delas) contra o líder da Venezuela.

Entenda provas por trás da acusação dos EUA de narcotráfico contra Maduro

A mobilização de navios de guerra americanos no Caribe reacendeu uma antiga e polêmica acusação: Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, estaria envolvido em operações internacionais de narcotráfico. A decisão de Washington de enviar sete embarcações militares para a costa venezuelana trouxe de volta ao debate um tema que, embora já fosse ventilado desde 2015, ganhou contornos mais graves após o anúncio de uma recompensa milionária por informações que levem à captura do líder chavista. Mas até que ponto essas acusações se sustentam? Que provas concretas existem? E como esse embate pode afetar o equilíbrio político da América Latina?

A cronologia da crise ajuda a entender a dimensão da escalada. Em 7 de agosto, a secretária de Justiça dos Estados Unidos, Pam Bondi, surpreendeu ao anunciar uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levassem à prisão de Maduro. Na ocasião, ela o descreveu como “um dos narcotraficantes mais poderosos do mundo e uma ameaça à segurança nacional”. O pronunciamento foi acompanhado do imediato envio de mais de 4.000 militares americanos à região, junto de submarinos, aeronaves de reconhecimento e novas embarcações de guerra. O que chamou a atenção foi a rapidez da movimentação, dias depois de a Casa Branca e Caracas selarem um acordo para retomada da exportação de petróleo venezuelano por meio da Chevron, em troca da libertação de prisioneiros.

O navio USS Iwo Jima (LHD-7) atracado em um dia de inverno na Virgínia, nos EUA • Bill Chizek/Getty Images

Essa reviravolta causou ruídos dentro do próprio governo Trump. Fontes da Casa Branca afirmaram à CNN que havia um choque entre alas distintas: de um lado, políticos da Flórida e membros da oposição venezuelana pressionavam por uma postura mais dura contra Maduro; de outro, setores que defendiam uma estratégia menos confrontativa, para não comprometer negociações de interesse econômico. Essa divisão expôs a complexidade do tema: afinal, se as acusações contra Maduro são tão graves, por que só agora houve um reforço militar direto na região?

O que dizem os relatórios internacionais

As acusações contra o governo venezuelano não são novas. Há pelo menos uma década, investigações norte-americanas e de organismos internacionais apontam para supostos vínculos entre altos oficiais de Caracas e redes de narcotráfico. Um nome aparece com frequência: o “Cartel de los Soles”, uma expressão criada para se referir ao envolvimento de militares venezuelanos – especialmente generais – com o transporte e facilitação de cocaína. Mas há um detalhe importante: segundo a ONU, a Venezuela não é um país produtor da droga.

O navio USS Gravely (DDG-107) é um destroyer de mísseis guiados da classe Arleigh Burke da Marinha dos Estados Unidos. O veículo foi nomeado em homenagem ao Vice-Almirante Samuel L. Gravely Jr • Ricardo Pestana/Getty Images

O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) aponta que quase toda a produção mundial de cocaína está concentrada em Colômbia, Peru e Bolívia. O último relatório do órgão revelou que, das 3.700 toneladas produzidas globalmente, mais de 2.500 toneladas vieram da Colômbia. Ou seja, a Venezuela sequer aparece como produtora no mapa internacional. Além disso, o relatório anual da DEA (Agência Antidrogas dos EUA) publicado em março confirma que 84% da cocaína apreendida em território americano é de origem colombiana, com rotas de tráfico predominantes pelo Pacífico e por países como Equador, México e América Central.

Diante disso, críticos da narrativa americana levantam um questionamento central: se a Venezuela não produz cocaína e não aparece como protagonista nas estatísticas de trânsito da droga, por que seria classificada como centro de narcotráfico mundial?

O que dizem os críticos e defensores

Caracas, como era de se esperar, rejeitou todas as acusações. Deputados chavistas, como Blanca Eekhout, afirmaram que a denúncia é insustentável. “Para haver um cartel, ou você o produz, ou processa, ou trafica. Se na Venezuela não há cultivo, nem produção, nem tráfico, como pode haver um cartel?”, declarou. O discurso se apoia em estatísticas da própria ONU, mas deixa de lado episódios que, ao longo dos anos, levantaram suspeitas de envolvimento direto do círculo mais próximo de Maduro.

O navio USS Iwo Jima visitando o porto de Fort Lauderdale, na Flórida. A embarcação transporta a 26ª Unidade Expedicionária de Fuzileiros Navais para diversos cantos do mundo • icholakov/Getty Images

Em 2016, dois sobrinhos da primeira-dama venezuelana, Cilia Flores, foram condenados por tráfico de drogas em Nova York, após uma operação da DEA no Haiti. A sentença confirmou que eles conspiravam para transportar cocaína aos Estados Unidos, episódio que o governo venezuelano tratou com silêncio. Mais recentemente, em junho, o ex-chefe de inteligência Hugo “el Pollo” Carvajal declarou-se culpado em tribunal americano por conspiração para importar cocaína e envolvimento com narco-terrorismo. Durante o processo, promotores acusaram Carvajal de trocar armas por drogas com as FARC da Colômbia, além de colaborar com militares envolvidos no transporte da droga.

Esses episódios servem de combustível para a narrativa americana. Ainda que os relatórios da ONU minimizem o papel da Venezuela no tráfico global, Washington aponta evidências de que o país funciona como uma “plataforma logística” para o escoamento de drogas, operada com apoio de militares e altos funcionários do regime chavista.

Existe mesmo o Cartel de los Soles?

Um dos pontos mais nebulosos é a existência do chamado “Cartel de los Soles”. Segundo analistas, não se trata de um cartel nos moldes tradicionais, mas de uma rede descentralizada composta por oficiais militares que aproveitam sua posição para lucrar com rotas de narcotráfico. O nome faz referência aos sóis estampados nos uniformes dos generais venezuelanos.

Phil Gunson, pesquisador do International Crisis Group, explica que não se trata de uma organização hierárquica, mas de uma série de células conectadas a diferentes negócios ilícitos. “Os cartéis colombianos e mexicanos estão aqui. Há carregamentos pelo rio Orinoco e voos clandestinos para a América Central. Nada disso seria possível sem envolvimento direto do alto escalão”, afirmou.

O USS San Antonio (LPD-17), um navio da marinha americana de transporte anfíbio, destinado a desembarcar tropas, suprimentos e veículos em território inimigo • Bill Chizek/Getty Images

Essa visão é compartilhada pelo portal de inteligência InsightCrime, que descreve o Cartel de los Soles como uma rede fragmentada, mas eficiente, composta por militares que atuam no transporte e proteção de cargas de cocaína. Em sua análise, o papel de Maduro se assemelha ao do panamenho Manuel Noriega, condenado nos anos 1990 por sua ligação com o Cartel de Medellín: não era produtor, mas oferecia cobertura política e logística em troca de benefícios.

A disputa narrativa

A divergência entre relatórios internacionais e as acusações de Washington revela uma disputa de narrativas. De um lado, caracas insiste que a Venezuela não é produtora de cocaína e que realiza apreensões significativas – em 2022, segundo o governo, foram confiscadas 490 aeronaves e 94 embarcações ligadas ao tráfico. Do outro, os Estados Unidos apontam que essas ações seriam apenas “teatrais” diante do envolvimento de altos escalões com o crime organizado.

O ponto crítico dessa disputa está na credibilidade das provas. Até agora, as acusações públicas feitas por figuras como Pam Bondi e Bill Barr, ex-secretário de Justiça, carecem de documentos contundentes que liguem Maduro diretamente ao narcotráfico. Barr chegou a falar em transporte de até 250 toneladas de cocaína por ano pela Venezuela, volume considerado pequeno em relação à produção global, mas ainda significativo para gerar lucros milionários. No entanto, mesmo esse dado não foi acompanhado de provas verificáveis.

O navio USS Spruance (DDG-111) da Marinha dos Estados Unidos, um destroyer da classe Arleigh Burke navegando na baía de Tóquio • Getty Images

O que esperar daqui para frente

O caso Carvajal pode ser a peça-chave para definir os rumos dessa acusação. Sua sentença está marcada para 29 de outubro em Nova York e, caso se confirme que ele colaborou entregando provas contra Maduro, a pressão internacional poderá aumentar. Por outro lado, se nada de concreto for revelado, a narrativa americana arrisca enfraquecer, reforçando a percepção de que a ofensiva tem motivações políticas.

Enquanto isso, a presença de navios de guerra americanos no Caribe adiciona um componente militar ao conflito. Ainda que especialistas descartem uma intervenção direta, a mobilização é vista como recado claro de que Washington está disposto a endurecer contra Caracas. Analistas lembram que, em tempos de disputas energéticas e mudanças na geopolítica mundial, a Venezuela, com suas vastas reservas de petróleo, continua sendo peça estratégica no tabuleiro internacional.

📌 Resumo Final

A acusação de narcotráfico contra Maduro mistura fatos, suspeitas e interesses políticos. A ausência de provas contundentes coloca em xeque a narrativa americana, mas episódios envolvendo familiares e aliados próximos do presidente venezuelano reforçam as suspeitas de cumplicidade. Entre relatórios internacionais que apontam para a Colômbia como epicentro da produção e o envolvimento de militares venezuelanos em rotas ilícitas, resta a pergunta: Maduro é um dos maiores narcotraficantes do mundo ou apenas mais um líder acusado em meio a um jogo de pressões e interesses?

Chamada para ação e engajamento:

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Fonte: CNN Internacional

Da Reação.

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