Exportações brasileiras para os EUA despencam 18,5% em agosto, e importações desaceleram, revelando o peso das novas tarifas.
Uma nova realidade, mais complexa e desafiadora, começa a se desenhar nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos. Embora os números acumulados de 2025 ainda sustentem um recorde histórico, os dados de agosto soaram um alarme contundente: as sobretaxas impostas pelo governo americano não são mais uma ameaça distante, mas um fator concreto que já provoca uma queda expressiva nas exportações brasileiras e desacelera o ritmo de todo o intercâmbio bilateral. A análise, parte da mais recente edição do Monitor do Comércio BR-EUA da Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil), revela uma inflexão que pode redefinir a dinâmica entre as duas maiores economias do continente.
No acumulado de janeiro a agosto, a corrente de comércio (soma de exportações e importações) atingiu a marca de US$ 56,6 bilhões. As exportações brasileiras, especificamente, somaram US$ 26,6 bilhões, um crescimento modesto de 1,6% em comparação com o mesmo período de 2024, mas o suficiente para estabelecer um novo recorde. No entanto, esse panorama otimista é ofuscado pela análise mensal. Apenas em agosto, as vendas do Brasil para os EUA sofreram uma retração de 18,5%, um recuo significativo impulsionado diretamente pelos produtos que se tornaram alvo das novas barreiras tarifárias.
A dissecação dos números é ainda mais reveladora. Os itens efetivamente sujeitos às sobretaxas viram suas vendas caírem 22,4% em agosto. O fato de alguns desses segmentos ainda apresentarem um balanço anual positivo é explicado por uma estratégia de antecipação de embarques, realizada por empresas que previam a imposição das tarifas e se adiantaram para mitigar perdas. Por outro lado, os produtos que não foram alvo das novas tarifas também sentiram o baque, com uma queda de 7,1% no mês. Nesse caso, a justificativa reside em fatores de mercado, principalmente a menor demanda americana por petróleo e seus derivados, um dos principais itens da pauta de exportação brasileira.
O Impacto Setorial: Ganhadores e Perdedores
O cenário de incerteza não afetou todos os setores da mesma forma. O relatório da Amcham aponta um desempenho negativo acentuado em áreas estratégicas da indústria de base. As vendas de óleos combustíveis de petróleo registraram uma queda de 16,1% no acumulado do ano. O setor de celulose, vital para a balança comercial brasileira, encolheu 15,7%. Da mesma forma, os produtos semiacabados de ferro e aço, diretamente impactados pelas políticas protecionistas, tiveram uma redução de 9,8% em suas exportações para o mercado americano.
Em contrapartida, alguns segmentos demonstraram uma resiliência notável, navegando contra a maré de pessimismo. O agronegócio, em especial, mostrou sua força com a carne bovina, que viu suas exportações para os EUA saltarem impressionantes 93,4% no ano. O café brasileiro também se destacou, com um aumento de 33,0%. Fora do setor primário, a indústria de alta tecnologia marcou presença com o crescimento de 11,2% nas vendas de aeronaves, um testemunho da competitividade e qualidade da engenharia nacional.
O Efeito Bumerangue: Importações Também Desaceleram
O impacto das sobretaxas não foi unilateral. A desaceleração também se manifesta do lado das importações brasileiras de produtos americanos, um reflexo da profunda interconexão entre as cadeias produtivas dos dois países. No acumulado do ano, as compras do Brasil junto aos EUA somaram US$ 30 bilhões, um crescimento de 11,4% sobre 2024. Contudo, o ritmo dessa expansão perdeu fôlego de maneira drástica. Após registrar taxas de crescimento superiores a 18% em junho e julho, o avanço em agosto foi de apenas 4,6%.
Essa perda de dinamismo é um sinal claro do que os especialistas chamam de “efeito indireto” das tarifas. Setores no Brasil que dependem de insumos americanos, como o carvão mineral — essencial para a produção siderúrgica —, sentem o impacto da instabilidade e da nova conjuntura de custos.
Abrão Neto, presidente da Amcham Brasil, verbaliza essa preocupação. “A forte desaceleração no ritmo das importações brasileiras vindas dos EUA sinaliza um efeito indireto das tarifas, reflexo do alto grau de integração e de comércio intrafirma entre as duas maiores economias das Américas”, afirma. O “comércio intrafirma”, mencionado por Neto, refere-se às transações realizadas entre filiais de uma mesma empresa multinacional, um componente crucial do fluxo comercial moderno que se torna mais sensível a barreiras e incertezas.
Superávit Americano com Brasil Dispara na Contramão Mundial
Um dos dados mais surpreendentes do relatório é a performance da balança comercial. Enquanto os Estados Unidos viram seu déficit comercial com o mundo aumentar 22,4% no ano, atingindo a cifra de US$ 809,3 bilhões, o Brasil se tornou uma notável exceção. No comércio bilateral, os EUA não apenas tiveram superávit, como o ampliaram de forma massiva. O saldo positivo americano na troca com o Brasil chegou a US$ 3,4 bilhões entre janeiro e agosto, um crescimento exponencial de 355% em relação ao mesmo período do ano anterior. Isso significa que, apesar da retração geral, os EUA estão vendendo consideravelmente mais para o Brasil do que compram, uma dinâmica que as novas tarifas tendem a acentuar. A situação coloca o Brasil em uma posição delicada, contribuindo para a saúde da balança comercial americana enquanto a sua própria enfrenta novos e sérios desafios. O caminho a seguir exige cautela, diálogo e uma estratégia bem definida para diversificar mercados e proteger os setores mais vulneráveis da economia nacional.
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Fonte: Comunicação Estratégica Campinas / Amcham Brasil