Ex-Ministro Chinês Condenado à Morte por Corrupção

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Tang Renjian, de governador a traidor: pena suspensa após subornos de R$ 201 milhões em 17 anos de abusos de poder

Em um veredito que ecoa como um trovão no coração do Partido Comunista Chinês (PCC), o ex-ministro da Agricultura e Assuntos Rurais, Tang Renjian, foi sentenciado à morte com suspensão de dois anos nesta domingo (28 de setembro de 2025) por corrupção em escala colossal. O Tribunal Popular Intermediário de Changchun, na província de Jilin, não poupou palavras: os crimes de Tang causaram “perdas particularmente graves aos interesses do Estado e do povo”, justificando a pena máxima. No entanto, a confissão plena, a colaboração na recuperação de bens e o demonstrado arrependimento atenuaram a sentença, que pode ser convertida em prisão perpétua se o réu se comportar durante o período de suspensão. Além da sombra da execução, Tang perdeu vitaliciamente seus direitos políticos e teve todos os bens pessoais confiscados, com os ganhos ilícitos – acrescidos de juros – revertidos ao tesouro nacional.

Aos 63 anos, Tang Renjian, outrora uma estrela ascendente no aparato burocrático chinês, acumula uma trajetória que agora serve de lição trágica sobre os perigos da ambição desmedida. Sua carreira decolou nos anos 1980, no Ministério da Agricultura, onde começou como técnico e escalou degraus com eficiência notável. Em 2017, assumiu como governador da província de Gansu, no noroeste árido do país, onde lidou com desafios como desertificação e pobreza rural. Dali, migrou para o sul, como vice-presidente da região autônoma de Guangxi, antes de ser nomeado ministro em dezembro de 2020, sob o governo de Xi Jinping. Em cargos variados entre 2007 e 2024, Tang explorou sua influência para favorecer terceiros em contratos milionários, aprovações de projetos empresariais e ajustes de pessoal – favores que renderam a ele mais de 268 milhões de yuans (cerca de US$ 38 milhões ou R$ 201 milhões) em propinas, pagas em dinheiro vivo e propriedades imobiliárias.

Tang Renjian

O julgamento, realizado em julho de 2025, durou horas de escrutínio minucioso. Promotores apresentaram evidências irrefutáveis: listas de transações, testemunhos de beneficiários e registros de transferências que pintavam um quadro de sistemática traição ao Estado. Tang, em sua declaração final, não negou nada. “Aceito o veredito e não recorrerei”, disse ele, segundo a agência estatal Xinhua, em um gesto que, para alguns analistas, reflete não apenas remorso genuíno, mas também o cálculo frio de quem sabe que a misericórdia judicial chinesa é frágil. A prisão ocorreu em dezembro de 2024, após uma investigação relâmpago iniciada em maio daquele ano pela Comissão Central de Inspeção Disciplinar (CCID), o braço anticorrupção do PCC. Tang foi expulso do partido em novembro, um estigma que antecede qualquer processo legal na China.

Essa condenação não é um caso isolado, mas o mais recente capítulo na implacável cruzada anticorrupção de Xi Jinping, lançada em 2012 quando ele assumiu como secretário-geral do PCC. Batizada informalmente de “caça aos tigres e moscas”, a campanha visa tanto os “tigres” – altos escalões como Tang – quanto as “moscas” – funcionários menores. Desde então, mais de um milhão de quadros partidários foram punidos, com investigações que se intensificaram em 2025. Em julho, durante uma reunião do Politburo, Xi reiterou as “oito regras de austeridade” de 2012, enfatizando que “a supervisão rigorosa é o alicerce do desenvolvimento partidário”. Para o presidente, a corrupção não é mero desvio ético, mas “a maior ameaça à sobrevivência e legitimidade do PCC”, como declarou em janeiro deste ano.

Críticos ocidentais, como analistas da Reuters, veem na ofensiva um duplo propósito: purgar rivais políticos enquanto projeta uma imagem de governança limpa. “Xi usa a luta contra a corrupção para consolidar poder, mas os resultados são inegáveis: bilhões recuperados e uma elite mais disciplinada”, observa um relatório recente. Na China, a reação é mista. Nas redes sociais controladas, como o Weibo, posts celebram a sentença como “justiça restauradora”, com hashtags como #AntiCorruptionGanhaForça acumulando milhões de visualizações. Mas sussurros dissidentes, ecoados em fóruns exilados, questionam se a severidade não inibe inovação e atrai medo paralisante entre burocratas.

O caso de Tang evoca precedentes emblemáticos, como o de Zhou Yongkang, ex-chefe de segurança e membro do Politburo, condenado à prisão perpétua em 2015 por subornos de 130 milhões de yuans (R$ 97 milhões). Zhou, assim como Tang, confessou e não apelou, mas sua pena reflete uma era em que a morte era mais comum para corruptos. Hoje, com a suspensão, a execução é improvável – estatísticas mostram que 99% das penas de morte por corrupção são comutadas –, mas o simbolismo perdura: ninguém está imune.

Para o setor agrícola chinês, o impacto é sísmico. Como ministro, Tang supervisionava políticas vitais para a segurança alimentar de 1,4 bilhão de pessoas, incluindo subsídios e inovações em grãos. Sua queda expõe vulnerabilidades em um ministério já abalado por escândalos, como as investigações paralelas contra ex-ministros de Defesa, Li Shangfu e Wei Fenghe, ambos expulsos por corrupção em 2024. Analistas preveem uma “limpeza nuclear” no Ministério da Agricultura, com nomeações mais leais a Xi, mas alertam para atrasos em reformas rurais.

Globalmente, o veredito reacende debates sobre punições exemplares. No Brasil, onde escândalos como a Lava Jato puniram dezenas de políticos com prisão, mas raramente com tamanha drastia, usuários no X (antigo Twitter) ironizam: “Se aplicássemos isso aqui, sobraria quem no Congresso?” Na Índia e na África do Sul, semelhantes reflexões surgem, questionando se a tolerância zero chinesa é modelo ou autoritarismo disfarçado.

Em última análise, a sentença de Tang Renjian não é só sobre um homem, mas sobre o pacto faustiano do poder na China moderna. Xi Jinping, ao erguer o machado, reforça sua narrativa de renascimento nacional, mas o custo humano – uma vida suspensa na corda bamba da redenção – lembra que, na caça aos corruptos, ninguém escapa ileso. Enquanto o mundo observa, Pequim envia uma mensagem clara: a corrupção mata, literal e figurativamente.


O que você acha dessa pena radical? Seria solução para o Brasil ou exagero? Comente abaixo e compartilhe! 🔥📰💬🇨🇳 #FimDaCorrupção

Fonte: Xinhua News Agency (principal fonte oficial); Reuters; Hong Kong Free Press; The Economic Times; NHK World; AFP (via múltiplos veículos); posts no X de @shanghaidaily, @BlogdoNoblat e @SensoCrtico1 para reações sociais.

Da Redação.

Jornalista


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