Bolsonaro acusa STF de crise democrática após virar réu

Ex-presidente compara Brasil à Venezuela e ataca Judiciário
Em mais um capítulo turbulento da política brasileira, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reagiu com veemência à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que o tornou réu em um novo processo. Nesta quinta-feira (27), o líder da direita brasileira usou suas redes sociais para lançar duras críticas ao Judiciário, afirmando que o país vive uma “grave crise democrática” e comparando a situação brasileira ao regime autoritário da Venezuela.
A postagem no X (antigo Twitter) foi uma resposta direta à decisão do ministro Alexandre de Moraes, que aceitou uma denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra Bolsonaro por suposta obstrução à Justiça no caso das fake news sobre as eleições de 2022. O ex-presidente, que já enfrenta outros processos no STF, acusou o tribunal de perseguição política e de tentar impedir sua eventual candidatura em 2026.
“O Brasil está mergulhado em uma crise democrática sem precedentes. O Judiciário, especialmente o STF, age como um partido político, criminalizando opiniões e perseguindo adversários. Estamos seguindo o caminho da Venezuela”, escreveu Bolsonaro.
A comparação com a Venezuela não é nova no discurso bolsonarista, mas ganha força em um momento em que o ex-presidente busca mobilizar sua base contra o STF. Seus aliados no Congresso e nas redes sociais rapidamente ecoaram as críticas, acusando o tribunal de “ativismo judicial” e “autoritarismo”.
Reações políticas e jurídicas
A fala de Bolsonaro foi imediatamente rebatida por políticos da oposição e juristas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em viagem ao exterior, evitou comentar diretamente, mas aliados petistas classificaram as declarações como “desespero de quem não aceita a lei”.
Juristas ouvidos pela imprensa destacam que o STF tem agido dentro de suas atribuições e que as críticas de Bolsonaro podem configurar novos desrespeitos à corte. “A retórica de vitimização e ataque às instituições é preocupante e pode agravar sua situação legal”, afirmou o constitucionalista Carlos Ari Sundfeld.
O ministro Luiz Fux foi o único a defender que o caso fosse analisado pelo plenário completo da Corte, composto por 11 ministros. Em voto vencido, Fux argumentou que a gravidade e a natureza do processo — que envolve um ex-chefe de Estado — justificariam o deslocamento do julgamento. “Se essa matéria fosse tão pacífica [em relação à competência da Primeira Turma], não teria havido divergência na votação recente sobre mudança no regimento, no último dia 11 de março”, afirmou.
“Ou estamos julgando pessoas que não exercem mais função pública, ou estamos julgando pessoas que ainda têm essa prerrogativa, e o lugar correto seria o plenário”, reforçou Fux em sua tentativa de redirecionar o caso.
No entanto, por 4 votos a 1, os ministros da turma decidiram manter a análise do caso no colegiado restrito. O relator, Alexandre de Moraes, foi seguido pelos ministros Cármen Lúcia, Flávio Dino e Cristiano Zanin. Com isso, a denúncia segue seu curso na própria Primeira Turma.
Cenário eleitoral e futuro político
Analistas avaliam que a estratégia de Bolsonaro é manter-se relevante no debate público enquanto enfrenta processos que podem torná-lo inelegível. Se condenado, ele corre o risco de ficar fora das eleições de 2026, o que explicaria o tom cada vez mais agressivo contra o STF.
Enquanto isso, sua base no Congresso tenta aprovar medidas que limitem o poder do Judiciário, como a chamada “PEC do Contrapeso”, que daria mais poderes ao Legislativo para interferir em decisões do STF. A proposta, no entanto, enfrenta resistência até mesmo dentro do centrão.
O que dizem as pesquisas?
Apesar de estar inelegível até 2030 e responder como réu por suposta tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece na frente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em uma simulação de segundo turno para as eleições de 2026. Segundo pesquisa Futura Inteligência divulgada nesta quarta-feira (26), Bolsonaro teria 51,1% dos votos, contra 37,3% de Lula.
Conclusão
O embate entre Bolsonaro e o STF parece longe do fim. Enquanto o ex-presidente aposta no discurso de “perseguição política” para galvanizar seus apoiadores, o Judiciário segue enrijecendo sua posição, indicando que novas ações podem surgir. Em um país ainda dividido, a tensão entre os Poderes promete seguir como um dos principais temas da agenda nacional.
Da Redação.
Jornalista
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