
O escândalo envolvendo fraudes bilionárias no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ganhou um novo capítulo com a revelação de que Enrique Lewandowski, filho do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, está profissionalmente ligado a entidades investigadas pela Polícia Federal (PF). A conexão, mais ampla do que inicialmente noticiada, envolve a defesa de duas associações acusadas de realizar descontos irregulares em aposentadorias: o Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap) e a Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec).
A denúncia, publicada pela jornalista Malu Gaspar em O Globo, expõe que Enrique, advogado do escritório Panella Advogados, representa a Ambec em uma ação no Tribunal de Contas da União (TCU). A entidade, segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), captou R$ 231 milhões por meio de descontos não autorizados nas pensões de aposentados. O Cebap, por sua vez, arrecadou R$ 139 milhões no mesmo esquema, totalizando um desvio que pode alcançar R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.
A Operação Sem Desconto, deflagrada pela PF em 23 de abril de 2025, revelou um sofisticado esquema de fraudes envolvendo associações que, sob o pretexto de oferecer serviços como seguros e assistência funeral, realizavam descontos automáticos nas folhas de pagamento de aposentados sem consentimento. Esses descontos, autorizados por Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) com o INSS, beneficiavam entidades como Cebap e Ambec, além de lobistas, sindicalistas e até servidores públicos.
O TCU, após auditorias em 2024, identificou irregularidades e determinou medidas como o uso de biometria para confirmar a autorização dos beneficiários, exigência que, segundo a PF, foi sistematicamente ignorada. Como resultado, o governo suspendeu os ACTs e prometeu ressarcir os valores descontados em abril de 2025.
Enrique Lewandowski foi contratado pelo Cebap em dezembro de 2024, quatro meses antes da operação da PF, para representar a entidade em órgãos como INSS, CGU, TCU e a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), esta última vinculada ao Ministério da Justiça, comandado por seu pai. O contrato, com honorários de R$ 50 mil mensais para o escritório de Enrique, previa assessoria jurídica para manter os ACTs e evitar a desabilitação do Cebap como entidade autorizada a realizar descontos.
Além disso, uma procuração obtida por O Globo revela que Enrique também atua pela Ambec no TCU, reforçando sua conexão com o esquema. Apesar de sua assessoria afirmar que a atuação é estritamente administrativa e não envolve a esfera criminal, a proximidade com o Ministério da Justiça levanta questionamentos sobre possíveis conflitos de interesse.
Questionado na Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados em 29 de abril de 2025, Ricardo Lewandowski defendeu a legalidade da atuação de seu filho, argumentando que advogados não devem ser confundidos com seus clientes. Ele negou qualquer envolvimento do escritório de Enrique com o Ministério da Justiça e prometeu rigor nas investigações da PF. Contudo, a resposta não dissipou as críticas, com parlamentares e a opinião pública apontando a necessidade de maior transparência.
O escândalo já resultou em consequências significativas: o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi afastado, e o ministro da Previdência, Carlos Lupi, deixou o cargo após a revelação das fraudes. A investigação da PF, que cumpriu 211 mandados de busca e apreensão e seis de prisão, aponta para um esquema que beneficiou não apenas as associações, mas também figuras ligadas ao governo e ao meio sindical.
A ligação de Enrique Lewandowski com Cebap e Ambec intensifica o debate sobre ética e influência no poder público. Posts em redes sociais, como os de @JornalDaCidadeO e @RodrigoDaGamma, refletem a indignação pública, descrevendo o caso como “fétido” e exigindo maior escrutínio.
À medida que a PF avança, a pressão por respostas cresce. O TCU e a CGU continuam monitorando as entidades envolvidas, enquanto o governo enfrenta o desafio de restaurar a confiança dos aposentados lesados. A atuação de Enrique Lewandowski, embora legal, coloca Ricardo Lewandowski em uma posição delicada, com o público questionando se a proximidade familiar pode influenciar as investigações.
O caso, longe de se encerrar, promete novas revelações, reforçando a percepção de que, no Brasil, escândalos de corrupção frequentemente revelam redes complexas de interesses.
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