
Uma operação da Polícia Federal (PF) deflagrada em 23 de abril expôs um esquema bilionário de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com descontos indevidos em aposentadorias e pensões que podem chegar a R$ 6,3 bilhões. No centro da polêmica está o Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap), uma das entidades investigadas, que contratou o escritório de advocacia de Enrique Lewandowski, filho do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, quatro meses antes da ação policial. O contrato, firmado em 2 de dezembro de 2024, levanta questionamentos sobre possíveis conflitos de interesse, embora tanto o advogado quanto a assessoria do ministro neguem qualquer irregularidade.
O acordo entre o Cebap e o escritório de Enrique Lewandowski, junto a outras duas bancas de advocacia, tinha como objetivo representar a associação perante órgãos federais, incluindo o INSS, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) — vinculada ao Ministério da Justiça —, a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU). O propósito era assegurar a manutenção do Acordo de Cooperação Técnica (ACT) com o INSS, que permite descontos automáticos de mensalidades associativas diretamente dos benefícios de aposentados e pensionistas. O contrato estipulava honorários de R$ 200 mil por mês, dos quais R$ 50 mil eram destinados ao escritório de Enrique, totalizando R$ 600 mil anuais para sua banca.
A operação, batizada de “Sem Desconto”, revelou que entidades como o Cebap realizavam cobranças sem autorização, lesando milhões de beneficiários entre 2019 e 2024. A sede do Cebap, em São Paulo, foi alvo de buscas pelos agentes federais, que cumpriram 211 mandados de busca e apreensão e seis de prisão em 13 estados e no Distrito Federal. Auditorias realizadas pelo TCU e pela CGU, iniciadas em dezembro de 2023, já apontavam suspeitas de fraudes nas filiações do Cebap, que acumula condenações judiciais por cobranças indevidas. Quando o contrato com Enrique foi assinado, a entidade já estava sob escrutínio, o que intensifica as críticas à sua contratação.
Enrique Lewandowski, por meio de sua assessoria, afirmou que o contrato se restringe à prestação de serviços no âmbito do Direito Administrativo, com foco em consultoria para fiscalizações e reuniões com autoridades, sem qualquer atuação na esfera criminal. “O documento não contempla processos no Ministério da Justiça e Segurança Pública”, declarou. A assessoria do ministro Ricardo Lewandowski reforçou que “não houve, nem há, atuação do escritório no âmbito do Ministério”, destacando a separação entre as atividades do filho e as funções do ministro. Durante uma audiência na Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados, em 29 de abril, Lewandowski defendeu a legalidade da atuação do escritório do filho, enfatizando que a prática de contratar bancas para regularizar questões administrativas é comum e legítima.
A operação da PF resultou no afastamento de seis servidores do INSS, incluindo o presidente do instituto, Alessandro Stefanutto, e na suspensão dos acordos de cooperação técnica com entidades investigadas. O Ministério da Previdência Social anunciou que os descontos de mensalidades realizados em abril serão restituídos aos aposentados, e os beneficiários podem solicitar a exclusão de débitos indevidos pelo aplicativo ou site “Meu INSS”. O ministro da Previdência, Carlos Lupi, afirmou que “o dinheiro terá que ser devolvido aos prejudicados após apuração interna”.
O caso, revelado inicialmente pelo portal Metrópoles, gerou repercussão nas redes sociais, com críticas à proximidade entre o contrato do filho do ministro e uma entidade investigada. A PF e a CGU prometem novos desdobramentos, com a possibilidade de responsabilizar servidores, dirigentes e intermediários envolvidos no esquema. Enquanto isso, a investigação segue sob sigilo, e o governo reforça o discurso de combate à corrupção, com Lewandowski garantindo que as apurações irão “até as últimas consequências, doa a quem doer”.
Fonte: Informações baseadas em reportagens do portal Metrópoles e comunicados oficiais da Polícia Federal e do Ministério da Previdência Social.
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