Operação na Amazônia: Choque entre Lei e Sobrevivência no Rio Madeira

0
photo_2025-09-29_18-50-10

Senador alega destruição de moradias em ação contra garimpo; PF mira equipamento ilegal e famílias relatam terror.

Uma recente e contundente operação da Polícia Federal contra o garimpo ilegal no Rio Madeira, na altura dos municípios de Manicoré e Humaitá (AM), acendeu um estopim de controvérsias que ecoa de Brasília às comunidades ribeirinhas. De um lado, a denúncia de uma ação “indigna e injusta” que teria destruído casas flutuantes de famílias extrativistas. Do outro, a defesa da legalidade e a necessidade de combater um crime ambiental que devasta a floresta. No centro do conflito, a complexa realidade de milhares de brasileiros que vivem da mineração artesanal em uma das regiões mais sensíveis do planeta.

A polêmica ganhou força com as declarações do senador Plínio Valério (PSDB-AM), que, após uma diligência na região com a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), pela Comissão de Direitos Humanos (CDH), classificou a operação como arbitrária e focada em explodir “pequenas residências de extrativistas artesanais”, e não as dragas de mineração, como foi divulgado pela PF. Segundo o parlamentar, a ação condena essas famílias a uma “eterna pobreza” e serve a interesses estrangeiros que buscam “isolar a Amazônia” para se apropriar de suas riquezas. “É como se estivéssemos num campo de futebol jogando contra um time cujo provedor tenha comprado o juiz, os dois bandeirinhas e o VAR. Não tem para quem recorrer”, declarou Valério.

A visita da comitiva do Senado revelou a intenção de apresentar um projeto de lei para regulamentar o extrativismo mineral familiar, reconhecendo a prática como prevista na Constituição Federal. A medida buscaria oferecer um caminho legal para uma atividade que, hoje, coloca milhares de pessoas na marginalidade e em confronto direto com as forças de segurança.

O Relato das Vítimas: Medo e Trauma nas Águas do Madeira

Enquanto o debate político ocorre em Brasília, nas margens do Rio Madeira, o som das explosões deixou um rastro de medo e incerteza. Relatos colhidos pela Defensoria Pública do Amazonas (DPE-AM), que esteve em Humaitá para ouvir as famílias afetadas, pintam um quadro dramático da operação.

O extrativista Antônio de Souza, 42 anos, descreveu o que viveu como “uma guerra”. “Eles meteram tiro para a terra, onde estavam minha filha, minha esposa e minha sobrinha de 3 meses no braço. Também jogaram bombas de gás, e eu passei mal”, relatou. Outra moradora, Tatiel Souza, 34 anos, contou que seus três filhos ficaram traumatizados após ouvirem o barulho da escola, localizada próxima às embarcações. “Agora, qualquer coisa, eles se lembram da cena. Quando veem alguém estranho, correm achando que vai explodir de novo”, disse.

Os depoimentos indicam que a ação não afetou apenas quem estava diretamente envolvido com o garimpo. Juciane, cujo filho de 3 anos e filha de 10 inalaram gás de pimenta, afirmou que sua família não tem ligação com a mineração. “A gente foi atingido só porque as pessoas fugiram para dentro da nossa casa”, contou, destacando o agravamento do estado de saúde das crianças.

A Legalidade em Jogo: Moradia ou Crime Ambiental?

O cerne da questão jurídica reside na natureza das estruturas destruídas. A legislação brasileira, por meio das normas da Marinha do Brasil, exige uma série de autorizações para a instalação de qualquer estrutura flutuante, seja ela uma casa ou uma plataforma de trabalho, em águas de domínio público. Para as autoridades policiais e ambientais, as balsas equipadas com maquinário de sucção e processamento de sedimentos são, por definição, instrumentos de crime utilizados para a extração ilegal de minério, principalmente ouro.

A operação da Polícia Federal, frequentemente realizada em conjunto com o Ibama, tem como objetivo declarado descapitalizar as organizações criminosas por trás do garimpo, inutilizando os equipamentos de alto custo. Estudos, como o do Instituto Escolhas, revelam que o garimpo na Amazônia está longe de ser uma atividade de mera subsistência, movimentando milhões de reais e exigindo investimentos vultosos, como mais de R$ 3 milhões para estabelecer uma única balsa de extração.

Ambientalistas e pesquisadores alertam para os danos severos causados pela atividade: o mercúrio utilizado na separação do ouro contamina os rios, envenenando peixes e, consequentemente, as populações que deles dependem. Além disso, a dragagem do leito dos rios destrói o habitat aquático e altera a dinâmica fluvial, com impactos em cascata para todo o ecossistema.

A acusação de que a operação serve a “interesses estrangeiros” é rebatida por especialistas que a enquadram como um esforço legítimo do Estado brasileiro para exercer sua soberania, cumprir a legislação ambiental nacional e combater crimes que financiam outras atividades ilícitas, como o narcotráfico e a lavagem de dinheiro, em uma região estratégica para o país e para o equilíbrio climático global. O desafio, apontam, é aliar a repressão necessária a políticas públicas eficazes que ofereçam alternativas econômicas sustentáveis e dignas para a população local, quebrando um ciclo de ilegalidade e degradação que já dura décadas.


A situação na Amazônia é complexa e divide opiniões. De que lado você está? A operação foi uma ação legítima de combate ao crime ambiental ou uma violação de direitos humanos? Deixe sua opinião nos comentários! 👇🗣️🇧🇷

Fonte: Agência Senado.

Da Redação.

Jornalista


Descubra mais sobre GRNOTICIAS

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Queremos ouvir você, deixe seu comentário, será um prazer respondê-lo.

Descubra mais sobre GRNOTICIAS

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading