Puerto Casado: A Luta por Terra e Dignidade no Paraguai

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A seita Moon comprou as terras onde está localizado Puerto Casado para realizar um projeto agrícola. De acordo com uma representante, eles precisam dessa 'ferramenta' para alcançar a paz mundial

Comunidade resiste após venda para seita Moon em 2000

Em uma tarde quente e úmida de março, Alcides Manena, jornalista de 43 anos, recebe nossa equipe na varanda de sua casa de alvenaria em Puerto Casado, uma pequena cidade no norte do Paraguai. Sentado com um laptop no colo, ele examina fotografias que contam uma história de resistência. A chuva recente transformou as ruas não pavimentadas ao redor em lama, um reflexo das condições precárias enfrentadas por ele, sua esposa Eva Noguera, de 37 anos, professora, os cunhados e seus dois filhos, que vivem ali há 12 anos. A casa, herdada dos pais de Eva, nunca foi legalmente deles, apesar de décadas de ocupação familiar.

Manena exibe imagens da Grande Marcha de 2005, quando moradores de Puerto Casado caminharam 630 quilômetros até Assunção, a capital, em protesto. As fotos mostram crianças e adultos sob sol e chuva, em estradas ou na boleia de caminhões, carregando bandeiras, cartazes e instrumentos musicais. “Foi nossa resposta aos abusos”, diz Manena, referindo-se à venda de seu município em 2000 para a Associação do Espírito Santo para a Unificação do Cristianismo Mundial, conhecida como seita Moon, uma organização religiosa sul-coreana.

O Contexto da Venda Controversial

Puerto Casado, com cerca de sete mil habitantes, foi fundada em 1886 pelo empresário argentino Carlos Casado de Alisal. Localizada no Chaco paraguaio, uma região árida e pouco povoada, a cidade serviu como base para a extração de tanino, derivado do quebracho, essencial para o curtume no século passado. “Ele explorou os recursos naturais e formou um povoado, mas controlava tudo, até água e luz, que eram gratuitas”, explica Manena, nascido e criado ali. A empresa de Casado, uma das maiores do setor, acumulou fortuna e mais de 5 milhões de hectares.

Com o declínio dos taninos vegetais, substituídos por sintéticos, a operação encerrou-se, e, em 2000, centenas de milhares de hectares, incluindo Puerto Casado, foram vendidos à seita Moon. “Anunciaram que tudo seria vendido: terras, casas, escolas, a igreja, até o que foi plantado e pregado”, relata Manena. A transação expôs um problema crônico do Paraguai: a desigualdade na distribuição de terras, que persiste até hoje.

Impactos na Comunidade

A venda trouxe insegurança. Propriedades, animais e plantações passaram para mãos privadas, deixando moradores sem direitos legais sobre suas casas. “Sempre vivemos com o medo de perder nosso teto”, diz Manena. Eva Noguera complementa: “Meus pais viveram aqui por décadas, mas nunca tivemos documentos. Agora, enfrentamos o risco de despejo.” A falta de serviços básicos, antes garantidos, agravou a situação, com ruas lamacentas e infraestrutura precária.

A Grande Marcha de 2005

Cansados das promessas não cumpridas, os moradores organizaram a Grande Marcha de 2005. “Caminhamos 630 quilômetros para exigir nossos direitos”, conta Manena, mostrando fotos de famílias unidas, enfrentando intempéries. O protesto chamou atenção para a situação, mas a resolução permaneceu distante. “Queríamos que as terras fossem transferidas aos moradores locais”, diz ele, destacando a resiliência da comunidade.

O Conflito Persistente

Mais de duas décadas após a venda, o impasse continua. O governo paraguaio e os proprietários atuais, ligados à seita Moon, afirmam buscar uma solução, mas os avanços são lentos. Promessas de regularização fundiária e melhorias se acumulam, enquanto Puerto Casado segue em abandono. “Ninguém aqui vai ceder, mesmo com ordens judiciais de despejo”, afirma Manena, determinado.

Um Reflexo do Paraguai

Puerto Casado é um microcosmo dos desafios fundiários do Paraguai, onde terras concentradas em poucas mãos contrastam com a luta de comunidades por direitos básicos. A história da cidade, marcada pela exploração do tanino e pela venda controversa, ecoa em outras regiões do Chaco.

Fonte: BBC Brasil

O que você acha da luta de Puerto Casado por justiça e terra? Deixe seu comentário, compartilhe esta história e ajude a dar voz a essa comunidade! Juntos, podemos apoiar a causa por dignidade e direitos no Paraguai.

Da Redação.

Jornalista


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