No feriado de Corpus Christi, o Palácio do Planalto novamente exagerou nos dados sobre a assistência da União às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Em um comunicado divulgado pela Agência Brasil nesta quinta-feira, 30, o governo federal afirmou que já foram destinados 62,5 bilhões de reais para socorrer a população.
No entanto, pelo menos 85% desse valor se refere à liberação de linhas de crédito de bancos públicos, adiantamento de impostos ou a medidas que ainda não foram efetivamente implementadas, como a expectativa de compra de 1 milhão de toneladas de arroz, algo que o próprio ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, descartou no momento.
Além disso, o Planalto incluiu no cálculo ações como o adiantamento do Bolsa Família, que já estava garantido no Orçamento-Geral da União, totalizando quase 800 milhões de reais.
Até o momento, os eventos climáticos extremos atingiram 471 cidades, resultaram na morte de 169 pessoas e deixaram mais de 626 mil desabrigados no Rio Grande do Sul.
De acordo com a Secom, o governo federal tem atuado em seis frentes para apoiar a população gaúcha, empresários, e a gestão estadual e municipal dos locais afetados.
No entanto, na prática, a realidade é bem diferente. Dos 62,5 bilhões contabilizados pela União para ajudar às vítimas das enchentes, a maior parte refere-se a linhas de crédito especiais do BNDES para empresários reconstruírem equipamentos destruídos (15 bilhões), linhas de crédito emergencial para empresários (30 bilhões), postergação do pagamento da dívida do Rio Grande do Sul com a União por três anos (11 bilhões) e abatimento da suspensão de juros por três anos (12 bilhões).
Adicionalmente, a União contabilizou a estimativa de gastos de 7,2 bilhões de reais para a compra de 1 milhão de toneladas de arroz para equilibrar o mercado nacional.
Sobre a compra de arroz, Fávaro afirmou que a medida provisória autoriza a compra do produto e que estão atentos à necessidade de adquiri-lo no mercado internacional, se necessário.
No entanto, as medidas efetivamente implementadas, ou seja, aquelas em que o governo de fato desembolsou recursos, são diminutas em comparação com a tragédia: o Pix Reconstituição (voucher de 5,1 mil reais para famílias atingidas) soma 174 milhões; a liberação de FGTS, outros 715 milhões; fornecimento de kits emergenciais e montagem de hospital de campanha custaram 282 milhões; e ações de limpeza, alimentação e reparo de escolas, mais 22 milhões. Totalizando um valor muito distante dos 62 bilhões propagandeados pela União.
A BBC Brasil já havia alertado para essa estratégia do governo federal quando o Palácio do Planalto afirmou em maio que mais de 50 bilhões foram destinados para ajudar as vítimas das enchentes. Após essa reportagem, a oposição na Câmara entrou com requerimentos de informação pedindo detalhes das ações federais. Até o momento, a União não respondeu aos deputados.