PF Revela Propina no INSS: Cadernos do ‘Careca’ Apontam Esquema

Apreensão de anotações sugere repasses a ex-cúpula do órgão
A Polícia Federal (PF) descobriu indícios de um esquema de propina envolvendo ex-dirigentes do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), no âmbito da Operação Sem Desconto, que investiga fraudes bilionárias em descontos indevidos de aposentadorias e pensões. Cadernos apreendidos no escritório de Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS” e apontado como lobista central do esquema, contêm anotações que sugerem repasses financeiros a figuras-chave do instituto, incluindo o ex-presidente Alessandro Stefanutto e o ex-procurador-geral Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho. A informação foi inicialmente publicada pelo jornal O Globo e confirmada por fontes como CNN Brasil e G1.
O Esquema de Fraudes no INSS
Entre 2019 e 2024, associações e entidades sindicais descontaram, sem autorização, mensalidades de mais de 5 milhões de aposentados e pensionistas, gerando um prejuízo estimado em R$ 6,3 bilhões. Essas organizações, muitas sem estrutura física para prestar os serviços prometidos, como assistência jurídica ou descontos em planos de saúde, utilizavam dados de beneficiários obtidos irregularmente para realizar cobranças automáticas em folhas de pagamento. A PF aponta que o “Careca do INSS” era o principal intermediário, movimentando R$ 53,5 milhões, dos quais R$ 9,3 milhões teriam sido repassados a servidores ou empresas ligadas à cúpula do INSS.
As Anotações Comprometedores
Durante buscas realizadas em 23 de abril de 2025, no escritório de Antunes em Brasília, a PF apreendeu 20 cadernos preenchidos diariamente por sua secretária. As anotações, descritas como um “mapa” do esquema, incluem registros como “Stefa 5%” e “Virgílio 5%”, que os investigadores associam a Stefanutto e Virgílio. Esses percentuais sugerem a divisão de propinas, mas a autenticidade do material ainda está sob análise. A PF considera enviar os cadernos ao Instituto Nacional de Criminalística (INC) para perícia grafotécnica, que pode confirmar a autoria e fortalecer as acusações. Além disso, os documentos detalham atividades financeiras e reuniões, reforçando a suspeita de coordenação entre lobistas, entidades e servidores.
Envolvidos e Respostas
Alessandro Stefanutto, demitido da presidência do INSS após a operação, e Virgílio, afastado da procuradoria, são alvos centrais da investigação. A PF também identificou transferências de Antunes para pessoas próximas aos ex-dirigentes, como R$ 7,5 milhões à empresa de Thaisa Hoffmann Jonasson, esposa de Virgílio, e um Porsche Taycan avaliado em R$ 1 milhão, registrado em nome do lobista, mas usado por ela. Outro ex-diretor, André Paulo Félix Fidelis, teria recebido R$ 5,2 milhões via empresas de seu filho, Eric Douglas Martins Fidelis.
A defesa de Stefanutto nega qualquer relação pessoal com Antunes e classifica as anotações como “apócrifas, sem valor probatório”. A advogada de Virgílio e Thaisa, Izabella Borges, afirmou que “não reconhece as informações” por falta de acesso aos autos. Os advogados de Antunes, Alberto dos Santos Moreira e Flávio Schegerin Ribeiro, sustentam que as acusações “não correspondem à realidade” e confiam na elucidação dos fatos. O ex-ministro da Previdência, Carlos Lupi, deve ser ouvido como testemunha, mas não há, até o momento, indícios de seu envolvimento direto.
Próximos Passos da Investigação
A PF planeja concluir a análise dos cadernos antes de convocar os investigados para depoimentos, previstos para após a perícia. A operação, que já resultou na prisão de seis pessoas e no afastamento de outros servidores, incluindo um agente da PF, expôs a fragilidade nos controles do INSS. A Controladoria-Geral da União (CGU) revelou que 95,6% dos 742.389 pedidos de cancelamento de descontos em 2024 foram por cobranças não autorizadas. O caso também gerou desgaste político, culminando na saída de Lupi do Ministério da Previdência.
Impacto e Repercussão
O escândalo abala a confiança no INSS e levanta questionamentos sobre a fiscalização de acordos com associações. A CGU e o Tribunal de Contas da União (TCU) já haviam alertado para irregularidades, mas novos acordos foram firmados em 2024, agravando os desvios. A operação Sem Desconto é vista como um marco no combate à corrupção no órgão, mas a complexidade do esquema, envolvendo dezenas de entidades e empresas, sugere que novas revelações podem surgir.
Fontes da Matéria: G1, CNN Brasil, O Globo e Metrópoles.
Da Redação.
Jornalista
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