Macron Acusado de Interferir na Escolha do Papa

Rumores de influência geram tensões no Vaticano
As movimentações do presidente francês, Emmanuel Macron, em Roma, às vésperas do conclave que escolherá o sucessor do Papa Francisco, têm gerado uma onda de especulações e críticas. Segundo o jornal francês Le Monde, Macron teria participado de um jantar na embaixada da França junto à Santa Sé, onde se reuniu com cardeais franceses e membros da Comunidade de Sant’Egidio, um movimento católico progressista próximo ao falecido pontífice. Entre os presentes, destaca-se o cardeal Jean-Marc Aveline, arcebispo de Marselha, apontado como um dos “papáveis” para o trono de São Pedro. A iniciativa, segundo analistas, seria uma tentativa de Macron de promover candidatos alinhados à visão reformista de Francisco, desafiando a tradição de neutralidade religiosa do Estado francês.
Contexto da Polêmica
A suspeita de interferência ganhou força após relatos de que Macron jantou com quase todos os cardeais franceses eleitores na Villa Bonaparte, embaixada francesa em Roma, conforme noticiado pelo jornal espanhol El País. A presença de Aveline, um cardeal de perfil progressista, mas que não domina o italiano – uma limitação vista como obstáculo no conclave –, alimentou especulações de que Macron busca influenciar a escolha de um papa que mantenha as diretrizes de Francisco, como a defesa dos migrantes e a abertura a questões sociais. Além disso, o presidente francês almoçou com o historiador Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Sant’Egidio, o que foi interpretado por alguns como uma negociação para apoiar um candidato italiano, caso um francês seja inviável.
A imprensa italiana, especialmente veículos conservadores próximos à primeira-ministra Giorgia Meloni, reagiu com indignação. Manchetes como “Macron quer até escolher o papa” (La Verità) e “intervencionismo digno de um Rei-Sol moderno” (Il Tempo) refletem o tom de crítica. O jornal liberal Il Foglio, por outro lado, classificou as acusações como “fofoca” alimentada por setores conservadores interessados em um papa mais alinhado à sua agenda. Membros da Comunidade de Sant’Egidio negaram qualquer conspiração, afirmando que Macron apenas busca compreender o processo, não influenciá-lo.
Histórico de Interferências
Não é a primeira vez que Macron é acusado de se intrometer em assuntos fora de sua alçada. Durante a gestão do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, o líder francês fez comentários sobre a gestão da Amazônia, gerando atritos diplomáticos. Mais recentemente, em um episódio constrangedor transmitido ao vivo, Macron tentou participar de uma conversa entre os presidentes Donald Trump e Volodymyr Zelensky, sendo gentilmente afastado por Trump. Esses incidentes reforçam a percepção de que Macron adota uma postura intervencionista em questões globais, muitas vezes desrespeitando protocolos.
No caso do Vaticano, a suposta interferência é particularmente delicada, dado o princípio de laicidade que rege a França. A participação de Macron em uma missa celebrada por Francisco em Marselha, em 2023, já havia provocado debates sobre a separação entre Igreja e Estado. Sua presença em eventos religiosos é vista por críticos como uma tentativa de se posicionar como um líder influente em questões espirituais, o que contrasta com a tradição francesa de neutralidade.
O Conclave e a Reação do Vaticano
O conclave, marcado para começar em 7 de maio de 2025, reunirá 135 cardeais eleitores de 71 países, refletindo a diversidade global da Igreja Católica. Cerca de 80% dos eleitores foram nomeados por Francisco, o que sugere uma inclinação progressista, mas analistas alertam para divisões internas. Nomes como o italiano Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, o filipino Luis Antonio Tagle, conhecido como “Francisco asiático”, e o italiano Matteo Zuppi, ligado à Sant’Egidio, estão entre os favoritos.
O Vaticano, por sua vez, mantém silêncio oficial sobre as acusações contra Macron, mas o desconforto é evidente. A instalação da chaminé na Capela Sistina, que anunciará o resultado da votação com fumaça branca ou preta, simboliza a iminência de um processo que a Igreja deseja preservar como sagrado e independente. O porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, confirmou que quatro cardeais eleitores ainda não chegaram a Roma, mas evitou comentar as tensões diplomáticas.
Implicações Geopolíticas
A movimentação de Macron reacende rivalidades históricas entre França e Itália, especialmente em um momento em que a extrema direita italiana, liderada por Meloni, busca maior influência no Vaticano. A proximidade de Macron com figuras como Zuppi, crítico das reformas de Meloni, intensifica as tensões. Além disso, a possibilidade de um papa progressista continuar desafiando líderes conservadores globais, como Trump e Viktor Orbán, adiciona uma camada geopolítica à disputa.
Conclusão
As acusações contra Macron, embora negadas por seus aliados, lançam luz sobre a complexa interseção entre política e religião. Enquanto o mundo aguarda a fumaça branca da Capela Sistina, a Igreja Católica enfrenta não apenas a escolha de um novo líder, mas também o desafio de manter sua autonomia em um cenário de interesses globais. Para Macron, o episódio reforça a imagem de um líder que, ao tentar moldar o futuro, frequentemente cruza linhas que outros prefeririam intocadas.
Da Redação.
Jornalista
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